"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

Abençoados os que
participam da mesa de dízimo.


“Vendo as multidões, Yeshua subiu ao monte. Depois de se assentar, os talmidim se aproximaram dele, e ele começou a falar. Isto é o que lhes ensinou: ‘Quão abençoados são os pobres em espírito! Porque o Reino do Céu é deles. Quão abençoados são os que pranteiam! Porque serão confortados. Quão abençoados são os pacíficos! Porque herdarão a Terra. Quão abençoados os que têm fome e sede de justiça! Porque serão satisfeitos. Quão abençoados os que demonstram misericórdia! Porque lhes será demonstrada misericórdia. Quão abençoados os puros de coração! Porque verão a Deus. Quão abençoados os que promovem a paz! Porque serão chamados filhos de Deus. Quão abençoados são os perseguidos pela procura da justiça! Porque deles é o Reino do Céu.’” 1
Jesus, o Messias.


JESUS É UM PROFESSOR que ensina magnamente seus alunos durante três anos. O cerne da primeira lição é que abençoados, bem-aventurados, felizes, são aqueles que reconhecem que, por receberem de Deus, precisam retribuir a alguém a Graça recebida.

Os necessitados são os que precisam que o Reino do Céu se manifeste a eles; por isso choram, pedindo que o Governo Divino se estabeleça com Sua Justiça. Mas essa dor se manifesta de forma pacífica, interna, íntima, no escondido do ser, desse pobre de Deus, desse necessitado de salvação; deles é a terra, tudo se curvará às suas necessidades, eles serão satisfeitos de sua fome e sede por justiça. Justiça é atributo de quem é Justo. Esses pobres de Deus, esses necessitados da essência Divina em sua existência, acreditam nas ações dos Justos, acreditam que o Deus Altíssimo, o Ser que nunca muda, fará com que suas necessidades essenciais sejam supridas.

Por sua vez, os Justos que socorrem os necessitados, são os misericordiosos que encontram a Misericórdia quando demostram misericórdia com quem precisa deles. Esses Justos são os que possuem um coração queimado – purificado – pelas chamas do amor fraterno, que entendem que somos uma só família, que sabem que a roda da existência é sempre recíproca. Esses Justos promovem paz para aqueles que estão em agonia pelo alimento que lhes falta, pela roupa que lhes foi tirada, pelos recursos financeiros que não chegam, pela ausência de desenvolvimento intelectual e pela falta de consolo afetivo. Ser filho de Deus é levar paz para quem está lutando consigo mesmo. Essa briga íntima entre o Jacó e o Israel internos, se resolve na pacificação do atribulado com a paz que vem por Peniel. Os Justos que socorrem os pobres são por sua vez perseguidos pelo bem que praticam, e por ensinarem aos socorridos a praticar o mesmo socorro. Quem é necessitado de Deus, recebe o Reino do Céu; quem retribui o Reino do Céu, o faz porque possui o Reino dentro de si. Um ciclo virtuoso de Misericórdia.

Misericórdia é lição que Jesus ensina aos seus alunos. Essa aula magna está saturada da verdade abraâmica do dízimo. Cuidar dos que necessitam é a mensagem que o dízimo traz de Abraão até seus dias. Essa é a Lei de Moisés, “cuidar dos órfãos e das viúvas em suas necessidades” 2 e Jesus não ensinou nada diferente da Lei, apenas a apresentou de forma simples para que todos pudessem entendê-la e praticá-la, e não serem enganados pelos “intérpretes da lei”. Felizes são os necessitados de Deus, pois receberão Deus para doarem Deus a quem precisa de Deus. Quando agimos com misericórdia com quem precisa, mesmo que sejamos tão necessitados quanto o necessitado a quem socorremos, nosso coração se acende, se incendeia com a chama Divina que ilumina nossos olhos e passamos ver a Deus. Podemos ver a Deus nos necessitados a quem socorremos com nossos dízimos, somos benditos do Pai Eterno, quando podemos ver o Salvador, naqueles que necessitam de Salvação.

Mas o que salvação tem a ver com o dízimo? Tudo!

Jesus fala claramente que os que herdam o Reino de Deus, são os misericordiosos. Seria a misericórdia expressão da salvação? Ou a salvação seria o exercício da misericórdia? Decida você mesmo.

“Então o Rei dirá aos que estiverem à direita: ‘Venham, benditos de meu Pai, recebam sua herança, o Reino preparado para vocês desde a criação do mundo! Porque tive fome, e vocês me deram comida; tive sede, e me deram algo para beber; fui estrangeiro, e me trataram como alguém convidado; necessitei de roupas, e vocês as providenciaram; estive doente, e cuidaram de mim; estive preso, e me visitaram’. Então as pessoas que realizaram a vontade de Deus responderão: ‘Senhor, quando o vimos com fome e o alimentamos, ou com sede e lhe demos algo para beber? Quando o vimos como estrangeiro e o recebemos, ou necessitado de roupas e lhe demos o que vestir? Quando o vimos doente ou preso e fomos visitá-lo?’. O Rei lhes responderá: ‘Eu lhes digo que todas as vezes que vocês fizeram essas coisas a algum destes meus irmãos menos destacados, o fizeram a mim’.” 3

Quando conseguimos ver o Divino em todo aquele que necessita da Divindade, nos tornamos agentes de união, seres que salgam as relações. Em Marcos 9:50, Jesus afirma que salgar é manter a união entre irmãos. Esses salgadores das relações fraternas são os operadores de milagres, esses podem facilmente multiplicar pães e peixes, pois sabem dividir; não precisam do dinheiro para comprar o que não tem, eles doam aquilo que possuem. Esses assalariados do Eterno doam o Divino de si para os que precisam dessa divinização.

Deus não precisa descer para socorrer nossos semelhantes, enquanto existir um ajuntamento de pessoas dispostas a se dividir para multiplicar. A justiça que o ajuntamento de messiânicos pratica não pode se tornar religiosa, porque a justiça do religioso é a caridade. Caridade não tem a competência para definir a tzedakah – Justiça – porque é ato seletivo. Tzedakah é retribuir o dízimo, tzedakah não é caridade. Quando praticamos a caridade selecionamos as pessoas que receberão nossa bondade. A igreja não pode agir de forma seletiva. Esse ajuntamento não pode ser de pessoas caridosas, esse ajuntamento tem de ser de pessoas Justas. O Justo é o que pratica a Justiça, Justiça é tzedakah. No campo espiritual, a escrita hebraica da palavra tzedakah tem como um de seus entendimentos: “o Justo que socorre a todos os pobres em nome de Deus”.



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Notas – Muitos dízimos, uma só intenção.
1. Malaquias 3:10 – BACF, Versão Digital 6.7, maio 2010.
2. Gênesis 12:3 – BACF, Versão Digital 6.7, maio 2010.
3. Nilton Bonder, O Judaísmo para o século XXI, Tolerância e o Outro, pgs. 23 a 26.
4. João 4:22.
5. Mateus 16:18.
6. Mateus 6:1 a 19.
7. Neologismo do autor. Qualidade de etéreo: relativo ao, ou da natureza do éter; sublime; celestial.
8. Marcos 4.12.

Abreviações
BACF - Bíblia Almeida Corrigida e Fiel; BJC - Bíblia Judaica Completa; BH - Bíblia Hebraica; BNVI - Bíblia Nova Versão Internacional; ES - Escrituras Sagradas; BEP - Bíblia Edição Pastoral.

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