NÃO NASCI JUDEU. “NASCI” CAJÚ 1. Tenho parentes Judeus em algum lugar na árvore
genealógica da família, mas entendo que isso não me faz um Judeu. Sei que sou
abençoado em Abraão, o pai dos judeus, por acreditar e confiar no dito bíblico
2, e essa confiança no que está escrito no Texto Sagrado é uma das coisas
que hoje me liga ao povo judeu.
Quando afirmo que o Cristianismo e o Protestantismo querem a todo custo
realizar um sincretismo cultural e religioso com o Judaísmo, não estou
exagerando. Essa falta de senso de alguns religiosos ocidentais, que querem ser
o que não são, os impede de conhecer quem realmente são e quem são aqueles que
eles tentam ser. A Cultura Judaica é como uma melodia distinta e possui notas
distintas e singulares, da mesma forma que o Cristianismo e o Protestantismo.
Tentar improvisar melodicamente na música alheia é um desrespeito sem tamanho.
Seria como se juntássemos dois compositores clássicos famosos, Mozart e Chopim,
por exemplo, e pedíssemos que um improvisasse na música do outro. Não daria
certo. Mozart é Mozart e Chopim é Chopim. Da mesma forma não podemos fazer
improvisos melódicos na Cultura Religiosa Judaica. O Rabi Nilton Bonder define
essa questão de forma tenaz e reveladora:
“É um momento de resistir às tentações da indiferença que se dissimulam
na tolerância e que não reconhecem que o judaísmo é uma melodia. Não acredito
que tenha que ser a única melodia – sem possibilidades de conversas –, mas é
uma melodia própria. O judaísmo suporta qualquer jazz, mas não o desafinar.
Triste a história deste grupo que, em vez de fazer jazz a partir da tradição
cristã, vem desafinar o judaísmo.” 3
Dando atenção ao alerta do rabino, não posso cantar a melodia do
Judaísmo, muito menos improvisar nessa cultura milenar, sólida, complexa
e divina. Resta-me somente o improviso jazzístico na banda do lado de cá da
religiosidade. Aqui, sendo um pastor, posso tocar os acordes melódicos próprios
à minha realidade cultural e religiosa; posso olhar para trás e ver onde a música
desafinou e buscar a correção do tom na minha própria religiosidade,
mesmo que ele – o tom melódico original – esteja na Cultura Judaica.
Nesse caso, posso “pegar o tom”, mas não posso tocar a música que o
originou. Não sou Judeu. No máximo um Israelita 4, “Não pratico a
religião”.
Do lado de cá dessa cultura religiosa, me entendo num subgrupo, noutra “categoria
melódica”, tipo uma “Bossa Nova” da religião. Com base na história
religiosa ocidental, sou incluso no movimento religioso conhecido como
Protestantismo. Movimento oriundo de uma cisma dentro do Cristianismo Romano,
que em minha opinião, em nada se diferem. Não me vejo protestante, pois os
protestos originários daquele movimento melódico, nada têm a ver comigo; só
geraram outras regras, outras indulgências, outras traduções, muita confusão e
enormes desavenças. Esses protestos sem senso se estendem até hoje, separando
famílias e amigos. Os protestos originados por Martinho Lutero provocaram uma
guerra descabida não só contra o cristianismo Católico Romano, mas também
contra os Judeus, fatos historicamente documentados 5. Porém os maestros
protestantes ocultam os tons desafinantes e desqualificantes
desse movimento religioso, que 400 anos depois de iniciado por Lutero,
encontrou plena aceitação na mente doentia de Adolf Hitler 6. É por
isso – entre outras coisas – que não me qualifico como protestante nem
antissemita 7.
Mas não pense que por não ser um protestante me entendo um católico. Não
é assim. Da mesma forma que o Protestantismo não possui origem bíblica, o
Cristianismo também não. O adjetivo greco-latino “cristo”, é um
neologismo de “cresto” 8 que quer dizer “uma boa pessoa”
9. Cristianismo ou “doutrina de cristo” é a tentativa de rotular o
movimento sócio espiritual que Jesus iniciou e o denominou “Igreja”10.
Talvez o termo “cristo” tenha sido cunhado pelo apóstolo Paulo11
ou por Constantino, na tentativa de gentilizar o termo hebraico Messias.
Esta informação é pertinente, já que há grande possibilidade de não existir
registro do terno na literatura greco-latina, antes do segundo século da Era
Comum.
O termo hebraico Messias tem muitos significados que somente os
Judeus conhecem em sua profundidade. Para aqueles que não são Judeus, existem
poucos significados, os mais conhecidos: “escolhido” e “ungido”,
que em determinados momentos se confundem; como se o Messias fosse
alguém “escolhido” por meio de uma “unção” especial.
Existe também o termo cunhado para tipificar todos os que acreditam e
praticam o “evangelho de Jesus”, esses são os “evangélicos”. Um
segmento que tenta ser uma alternativa entre os cristãos romanos e os
protestantes. A confusão se estabeleceu quando ao invés de traduzirem o termo
greco-latino “evanguélion” 12, o transliteraram para os
diversos idiomas que o Novo Testamento foi traduzido. Então, o que deveria ser
somente uma Boa Notícia, ganhou vida própria e se tornou um monstro dogmático,
capaz de promover o extermínio de culturas e pessoas em seu nome. Mas o
presente trabalho não vem tratar dessas questões; embora elas sejam pertinentes
farei isso em outra oportunidade.
É por estas e por outras razões que não devem ser reveladas aqui, que
afirmo não ser cristão, nem protestante, nem evangélico. Se não sou, quem sou
eu então? Sou criatura de Deus, acredito no Messias Jesus; sou um messiânico.
Quando afirmo isso me apresento como indivíduo, um ser singular, distinto dos
demais indivíduos à minha volta. Jesus é o Messias para mim, que não sou judeu
– apesar da ascendência. Por acreditar e aceitar que Jesus é o meu Messias não
posso confrontar ou forçar a quem quer que seja a aceitar esse fato que serve
somente a mim e a minha religiosidade. Quem não entende essa diferença
proveniente da liberdade de crer, invade a “música” alheia e a deturpa.
Sou messiânico, acredito no Messias Jesus, entendo que ao acreditar e praticar
o que está escrito na Bíblia, isso me torna um salvo, um santo, um ser que tem
a obrigação social de salgar as relações. Se é esse ser quem sou, sou
messiânico.
Meu objetivo é tratar das questões originárias do dízimo, e como na
atualidade isso pode se dar. Mas como já mencionei, as referências originais
estão dentro da Cultura Judaica e devido eu não ter sido instruído nela desde a
infância, não posso entender a profundidade do sentimento Judaico em retribuir
o dízimo. Tenho somente referências literárias que me indicam um caminho a ser
seguido do lado de cá, no “meu” universo melódico. O que é o dízimo para
um Judeu? Não sei. Vislumbro novas cores e formas de praticar essa retribuição
conhecida como dízimo, que serão exercitadas por mim e por minha família, de
agora em diante.
É nessa reverência ao Judaísmo, sem sequer tentar tocar um instrumento
dessa melodia divina, que aprendo para praticar os princípios básicos de
retribuir o dízimo.
***
Notas – Melhor improvisar na minha música, que
desafinar na música dos outros.
1. Nilton Bonder, O Judaísmo para o século XXI: Cajú o quinto filho - Na
celebração de Tu-Bi’shevat, o ano-novo relativo às árvores, nos primeiros
indícios de quebra do inverno e início da primavera, os rabinos criaram um
“jogo simbólico” através dos frutos. Para marcar a “tetralética” apresentaram a
ideia de que os frutos - graça maior concedida pelo reino vegetal - existem em
quatro categorias. Os frutos totalmente resguardados (cascas e caroços não comestíveis
- abacate, manga...) e os totalmente entregues (cascas e caroços comestíveis -
morango, figo...) representam os extremos no reino dos frutos. Os centros ficam
por conta dos frutos “centrodefendidos” (cascas não comestíveis e caroços
comestíveis - banana, abacaxi) e dos “centroentregues” (cascas comestíveis e
caroços não comestíveis - ameixa, oliva...). Tudo muito bem até que apareça o
caju. O caju é uma quinta categoria. É verdade que muitos gostariam de
enquadrá-lo como um fruto de casca comestível e caroço não comestível. Mas esta
seria uma triste simplificação do caju. Não me refiro apenas ao fato de que a
fruta do caju tem a estranha forma de externar seu caroço (seu caroço não é
protegido pela casca, mas exposto) e representar uma forma extraordinariamente
“entregue”; mas ao fato de que seu caroço, aparentemente não comestível, é
justamente a iguaria mais cobiçada do fruto - a castanha de caju. Não conheço
outro fruto cujo caroço seja mais cobiçado para efeitos comestíveis do que o
próprio fruto e cujos, caroço e fruto sejam externos uns aos outros. (...) O
CAJU é o quinto filho. Externo à cultura, ele não pode ser categorizado como
ignorante ou alienado, nem mesmo como aquele que a rejeita. Estes tempos (sic)
novos exigem a coragem de entender que talvez o “externo”, o próprio caroço
difícil de se engolir, seja talvez a maior iguaria. Que mais que o fruto, sua
importância está naquilo que é externo e em seu poder de construir e
reconstruir o que é interno. Talvez a grande surpresa seja justamente essa: o
que hoje é não comestível, intragável, pode ser a maior iguaria se tratado
adequadamente. Como a cultura brasileira se faz conhecer mais pela castanha de
caju do que pelo fruto, que a maioria desconhece ou jamais viu, não se
assombrem se este for o novo paradigma: da “castanha” pode surgir no futuro
muito da identidade de uma cultura que o fruto em si não produz. (...) Diz
respeito à evolução da ideia de que “ser judeu” é uma condição transmissível
apenas pelo “sangue”. Para colocar em linguagem contextualizada, não estamos
falando de uma carga genética, terminologia muito recente, mas de uma “alma”
que retrocede até o Monte Sinai. Este pedigree espiritual consiste numa forma
de racismo que se expressa pela crença não de um corpo diferenciado, mas de uma
alma diferenciada. Mais popularmente, essa forma de teologia ocupa o imaginário
como sendo “impossível para um não judeu entender o drama, a tragédia, a saga e
a epopeia do judaísmo”. Só uma “alma” moldada pela experiência histórica e
amamentada por um “lar judaico” consegue produzir o “ser judeu”. pgs. 35 a 39.
2. Gênesis 28:14.
3. O Judaísmo para o século XXI, Bonder e Sorj. p.25.
4. De um irmão judeu que não deve ser identificado: “... como Judeu, sou
Israelita. Não pratico a religião ...”.
5. “Em vez de matá-los, os deixamos impunes (...). O que nós cristãos,
devíamos fazer com este povo maldito e amaldiçoado? Que fazer já que os temos
entre nós, para não compartilhar com suas mentiras e blasfêmias? Como dizem os
profetas, não podemos apagar o eterno fogo da ira divina, nem podemos converter
os judeus. (...). Vou dar o meu conselho. Primeiro devíamos incendiar suas
sinagogas (ou escolas) e o que não queimar, devia ser soterrado
definitivamente, para honra de Nosso Senhor e da cristandade, mostrando a Deus
que não toleramos ofensas ao seu filho, nem a quem o segue. Porque o que
fizemos até agora, por ignorância, (eu mesmo não sabia) Deus perdoará. Mas
agora que o sabemos, ainda temos que guardar suas casas, tolerar suas mentiras
e blasfêmias? Seria imperdoável. (...). Não só as escolas, suas casas deviam
também ser destruídas, porque dentro delas praticam a mesma coisa que nas
escolas. Os judeus deviam ser reunidos sobre um único teto, como numa
estrebaria, igual aos ciganos, para que saibam que não são donos da terra, mas
prisioneiros, por suas mentiras e blasfêmias. Em seguida, deviam ser
confiscados seus livros de orações e o Talmud, pois só ensinam idolatria e
mentiras. Depois, proibir por todos os meios, que os rabinos continuem a
pregar, pois perderam o direito de pregar.” – Trechos do Livro “Dos Judeus e
suas mentiras”, Martin Luther - Alemanha, 1543, disponível na livraria da
Universidade de Harvard, EUA, sob número catalográfico 1282.59.105; Traduzido e
editado no Brasil por “Revisão Editora Ltda.”, Porto Alegre, 1993.
6. Adolf Hitler Nasceu em Braunau am Inn, Áustria. Martinho Lutero nasceu
em Eisleben, Alemanha. Áustria e Alemanha foram unificadas somente durante 1938
a 1945. // O próprio Adolf Hitler em sua autobiografia Mein Kampf considerou
Lutero uma das três maiores figuras da Alemanha, juntamente com Frederico, o
Grande, e Richard Wagner. - Adolf Hitler. Mein Kampf (Minha Luta), p.213.
7. Em 5 de outubro de 1933, o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen, declarou
publicamente, que “Hitler não teria sido possível, sem Martinho Lutero”. - in
Heinonen, Anpassung und Identität 1933-1945, Göttingen 1978 p.150 // Julius
Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua
defesa no julgamento de Nuremberg “que nunca havia dito nada sobre os judeus
que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes”. - Dennis Prager e Joseph
Telushkin: Why the Jews? The reason for anti-Semitism [Por que os Judeus: A
causa do anti-semitismo] – Nova York: Simon & Shuster, 1983, p.107 // Em
novembro de 1933, uma manifestação protestante que reuniu um recorde de 20.000
pessoas, aprovou três resoluções: 1) Adolf Hitler é a conclusão da Reforma; 2)
Judeus Batizados devem ser retirados da Igreja; 3) O Antigo Testamento deve ser
excluído da Sagrada Escritura. - Buchheim, Glaubnskrise im 3º Reich,
pgs.124-136.
8. Priscila e Áquila, maio 24, 2008. Por Papa Bento XVI, tradução:
Vaticano, fonte: Vaticano - http://www.bibliacatolica.com.br/blog/tag/cresto/.
9. Dicionário Grego Português, Português Grego, 6ª edição. Isidro Pereira,
p.633.
10. Mateus 16:18.
11. “O homem que inventou Cristo” –
http://super.abril.com.br/religiao/homem-inventou-cristo-444263.shtml.
12. “euaggelion” – recompensa, acção de dar graças por uma
boa nova, sacrifício oferecido por uma boa notícia. Isidro Pereira, Dicionário
Grego-Português e Português-Grego, p. 234 e p.868.
Abreviações
BACF - Bíblia Almeida Corrigida e Fiel; BJC
- Bíblia Judaica Completa; BH - Bíblia Hebraica; BNVI - Bíblia
Nova Versão Internacional; ES - Escrituras Sagradas; BEP - Bíblia
Edição Pastoral.
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