"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

Teshuvá e Salvação.
Pra mim e pra você.


“Servi ao Senhor com muita humildade e com lágrimas, a despeito das porções severas que passei e pelas conspirações dos judeus incrédulos. Vocês sabem que não deixei de falar-lhes, nada que fosse proveitoso e que lhes ensinei tudo publicamente e de casa em casa, declarando com a maior seriedade, tanto a judeus como a gregos: voltem-se dos seus pecados para Deus; depositem sua confiança em nosso Senhor Yeshua, o Messias.” 1
Paulo, um Apóstolo.


CONVERSÃO É A PASSAGEM de um estado para outro. Para que alguém faça parte da Igreja de Jesus há a necessidade de conversão. Mas essa conversão que Jesus provoca em seus alunos, não é a mesma que a congregação estatizada promove aos seus fiéis. Jesus instiga seus seguidores a mudarem seus paradigmas no tocante ao sustento deles e de suas famílias. Aceitar essa provocação parece ser o tema fundamental da salvação proposta por Jesus: deixar de ter e passar a ser. Essa mudança essencial do ente convertido pode ser percebida no convite aceito pela dupla de irmãos Pedro e André, João e Tiago – além, claro, de Mateus. Esses cinco alunos escolhidos por Jesus eram ricos, ou no mínimo não tinham problemas financeiros para sustentar suas famílias. Os irmãos eram empresários de pesca e Mateus cobrador de impostos. Jesus os convidou para se tornarem pobres, para passarem por necessidade, para aprenderem a depender da providência Divina. A proposta de Jesus aos seus seguidores era viver despreocupados com “o que comer e o que vestir” enquanto estivessem exercitando a misericórdia. Eles deveriam aprender a depender da providência Divina que viria por meio da misericórdia dos outros.

No “Sermão do Monte”, Jesus disse que eles valiam mais que passarinhos e flores; àqueles, “menos importantes”, Deus provia alimento e beleza. Por serem os Justos mais importantes que passarinhos e flores o Misericordioso expressaria mais cuidado, pois eles estariam plantando as sementes do Reino de Deus, levando misericórdia aos que esperavam pela Justiça do Reino do Céu. O Messias disse, que nem Salomão em toda sua glória vestiu-se como uma flor cuidada pelo Misericordioso. Se aqueles alunos entendessem que eram mais importantes que as flores, poderiam confiar que o Todo Poderoso os vestiria com as roupas mais bonitas, as lindas vestes da misericórdia. Se nós – eu e você –, também entendermos essa verdade e buscarmos até encontrar as portas estreitas que nos levam ao Reino do Céu e entrarmos por elas, sempre teremos algo para dar a quem precisa, porque nossa despensa sempre estará cheia. O salmista vive no fim de sua existência terrena essa confiança profunda que vem de experimentar a proteção Divina e a declara em forma de canção:

“Fui jovem; agora sou velho; e nunca vi o justo abandonado nem seus descendentes mendigarem o pão. É sempre generoso e empresta, e seus descendentes são abençoados.” 3

A conversão que Jesus propõe aos seus seguidores é: deixar de possuir “riquezas” e se tornar um “pobre de Deus”.

Na multidão dos que ouviam os ensinos de Jesus e buscavam a todo custo um ganho extra, muitos foram chamados, mas poucos foram escolhidos para o trabalho de semear a Misericórdia. Um dos que se sentiu chamado para o trabalho era um jovem rico e religioso; que ao perguntar de Jesus como poderia viver para sempre, a fim de continuar usufruindo dos prazeres que sua riqueza lhe proporcionava, deparou-se com a simples resposta de Jesus: isso é impossível. Ao contrário do que desejava o jovem, Jesus lhe disse que para viver eternamente era preciso diluir-se entre os pobres, dividir-se na forma de misericórdia. Quanto mais desse de si para os outros, mais vida teria, quanto mais “morresse”, mais vivo ficaria. Ele não fez. Desistiu. Por isso, é que “... é mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha que um rico entrar no Reino do Céu”. 4

Depois da aula teórica, Jesus aplicou uma prova prática. Ele espalhou doze de seus alunos pelas redondezas, para ensinarem o que haviam apreendido dele. Aquele era o momento fundamental. O texto do levita Mateus, mostra a seriedade do ensino de Jesus:

“Por onde forem, proclamem esta mensagem: ‘O Reino do Céu está próximo’, curem enfermos, ressuscitem mortos, purifiquem afligidos por tzara’at, expulsem demônios. Vocês receberam de graça, portanto deem sem pedir pagamento. Não levem dinheiro nos cintos, nem ouro, prata ou cobre; não levem nenhum saco de viagem, nenhuma roupa extra, nem sandálias, nem bordão — deve-se dar ao trabalhador o que ele necessitar.”5

Aqueles alunos da pedagogia Divina deveriam aprender a estar do outro lado da misericórdia: o lado da necessidade. Naquele momento onde eram anunciantes da Misericórdia de Deus, também eram clientes da misericórdia de quem os ouvia e os recebia em casa para o jantar; eles eram os estranhos que participariam do banquete gastronômico de dízimo. Confiar no que haviam apreendido sobre dividir a misericórdia, lhes deu poder para curar os enfermos do materialismo; para ressuscitar os mortos da ignorância religiosa; coragem para abraçar os “leprosos” emocionais e limpá-los de suas chagas psicológicas. A confiança no ensino de Jesus que apontava para o Misericordioso, lhes deu autoridade para expulsar todos aqueles demônios originados em Mamon. Sair somente com a “roupa do corpo”, sem levar nada para o sustento e voltar em segurança para o mestre, tendo recebido o cuidado de seus irmãos, lhes deu a certeza de que eram mais importantes que os passarinhos e as flores e por isso eram dignos do salário pago pelo Eterno; afinal de contas, quem semeia misericórdia, colhe Misericórdia, e é por isso que todo o trabalhador é digno desse salário 6, a Misericórdia. Jesus resgatou o serviço sacerdotal, que é o ensino e a prática da Misericórdia.

Encontramos em uma das cartas atribuídas ao aluno Simão Pedro, a lembrança desse fato insofismável. Eis o lembrete do apóstolo:

“Vocês, porém, são o povo escolhido os kohanim do Rei, a nação santa, o povo pertencente a Deus! Por quê? Para louvar Aquele que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz. Anteriormente vocês não eram um povo, mas agora são povo de Deus; antes, vocês não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam.” 7

A Igreja de Jesus deve ser o equilibrador da balança social na vida dos gentios, assim como os filhos de Abraão são o equilíbrio mundial, por meio das ações de misericórdia dos Justos que se juntam para praticar a Justiça do Reino do Céu. Para esse ministério, Jesus estabeleceu com nitidez as diferenças entre Igreja e matilha. Igreja é ajuntamento de pessoas que praticam a Justiça – doam e recebem Misericórdia –, pessoas, que em nome de Deus, retribuem o que são e o que possuem, a todos os necessitados em todas as suas necessidades. Matilha, ao contrário, é organização – principalmente de líderes religiosos –, que separa as famílias para “devorar” os mais fracos, os recém-nascidos e os velhos. Igreja dá, matilha tira.



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Notas – Teshuvah e salvação. Pra mim e pra você.
1. Atos 20:19 a 21 – BJC, Editora vida, 2010.
2. Salmo 37.25 – BJC, Editora vida, 2010.
3. Mateus 19:24; Marcos 10:25; Lucas 18:25.
4. Mateus 5:7 a 10 – BJC, Editora vida, 2010.
5. Lucas 10:7; I Timóteo 5:18.
6. I Pedro 2:9 e 10 – BJC, Editora vida, 2010.

Abreviações
BACF - Bíblia Almeida Corrigida e Fiel; BJC - Bíblia Judaica Completa; BH - Bíblia Hebraica; BNVI - Bíblia Nova Versão Internacional; ES - Escrituras Sagradas; BEP - Bíblia Edição Pastoral.

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