“Servi ao Senhor com muita humildade e com lágrimas, a despeito das
porções severas que passei e pelas conspirações dos judeus incrédulos. Vocês
sabem que não deixei de falar-lhes, nada que fosse proveitoso e que lhes
ensinei tudo publicamente e de casa em casa, declarando com a maior seriedade,
tanto a judeus como a gregos: voltem-se dos seus pecados para Deus; depositem
sua confiança em nosso Senhor Yeshua, o Messias.” 1
Paulo, um Apóstolo.
CONVERSÃO É A PASSAGEM de um estado para outro. Para que alguém faça parte da Igreja de Jesus
há a necessidade de conversão. Mas essa conversão que Jesus provoca em seus
alunos, não é a mesma que a congregação estatizada promove aos seus fiéis.
Jesus instiga seus seguidores a mudarem seus paradigmas no tocante ao sustento
deles e de suas famílias. Aceitar essa provocação parece ser o tema fundamental
da salvação proposta por Jesus: deixar de ter e passar a ser.
Essa mudança essencial do ente convertido pode ser percebida no convite
aceito pela dupla de irmãos Pedro e André, João e Tiago – além, claro, de
Mateus. Esses cinco alunos escolhidos por Jesus eram ricos, ou no mínimo não
tinham problemas financeiros para sustentar suas famílias. Os irmãos eram
empresários de pesca e Mateus cobrador de impostos. Jesus os convidou para se
tornarem pobres, para passarem por necessidade, para aprenderem a depender da
providência Divina. A proposta de Jesus aos seus seguidores era viver
despreocupados com “o que comer e o que vestir” enquanto estivessem
exercitando a misericórdia. Eles deveriam aprender a depender da providência
Divina que viria por meio da misericórdia dos outros.
No “Sermão do Monte”, Jesus disse que eles valiam mais que
passarinhos e flores; àqueles, “menos importantes”, Deus provia alimento
e beleza. Por serem os Justos mais importantes que passarinhos e flores o
Misericordioso expressaria mais cuidado, pois eles estariam plantando as
sementes do Reino de Deus, levando misericórdia aos que esperavam pela Justiça
do Reino do Céu. O Messias disse, que nem Salomão em toda sua glória vestiu-se
como uma flor cuidada pelo Misericordioso. Se aqueles alunos entendessem que
eram mais importantes que as flores, poderiam confiar que o Todo Poderoso os
vestiria com as roupas mais bonitas, as lindas vestes da misericórdia. Se nós –
eu e você –, também entendermos essa verdade e buscarmos até encontrar as
portas estreitas que nos levam ao Reino do Céu e entrarmos por elas, sempre
teremos algo para dar a quem precisa, porque nossa despensa sempre estará
cheia. O salmista vive no fim de sua existência terrena essa confiança profunda
que vem de experimentar a proteção Divina e a declara em forma de canção:
“Fui jovem; agora sou velho; e nunca vi o justo abandonado nem seus descendentes
mendigarem o pão. É sempre generoso e empresta, e seus descendentes são
abençoados.” 3
A conversão que Jesus propõe aos seus seguidores é: deixar de possuir “riquezas”
e se tornar um “pobre de Deus”.
Na multidão dos que ouviam os ensinos de Jesus e buscavam a todo custo um
ganho extra, muitos foram chamados, mas poucos foram escolhidos para o
trabalho de semear a Misericórdia. Um dos que se sentiu chamado para o trabalho
era um jovem rico e religioso; que ao perguntar de Jesus como poderia viver
para sempre, a fim de continuar usufruindo dos prazeres que sua riqueza lhe
proporcionava, deparou-se com a simples resposta de Jesus: isso é impossível.
Ao contrário do que desejava o jovem, Jesus lhe disse que para viver
eternamente era preciso diluir-se entre os pobres, dividir-se na forma de
misericórdia. Quanto mais desse de si para os outros, mais vida teria, quanto
mais “morresse”, mais vivo ficaria. Ele não fez. Desistiu. Por isso, é
que “... é mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha que um rico
entrar no Reino do Céu”. 4
Depois da aula teórica, Jesus aplicou uma prova prática. Ele espalhou
doze de seus alunos pelas redondezas, para ensinarem o que haviam apreendido
dele. Aquele era o momento fundamental. O texto do levita Mateus, mostra a
seriedade do ensino de Jesus:
“Por onde forem, proclamem esta mensagem: ‘O Reino do Céu está próximo’,
curem enfermos, ressuscitem mortos, purifiquem afligidos por tzara’at, expulsem
demônios. Vocês receberam de graça, portanto deem sem pedir pagamento. Não
levem dinheiro nos cintos, nem ouro, prata ou cobre; não levem nenhum saco de
viagem, nenhuma roupa extra, nem sandálias, nem bordão — deve-se dar ao
trabalhador o que ele necessitar.”5
Aqueles alunos da pedagogia Divina deveriam aprender a estar do outro
lado da misericórdia: o lado da necessidade. Naquele momento onde eram
anunciantes da Misericórdia de Deus, também eram clientes da misericórdia de
quem os ouvia e os recebia em casa para o jantar; eles eram os estranhos que
participariam do banquete gastronômico de dízimo. Confiar no que haviam
apreendido sobre dividir a misericórdia, lhes deu poder para curar os enfermos
do materialismo; para ressuscitar os mortos da ignorância religiosa; coragem
para abraçar os “leprosos” emocionais e limpá-los de suas chagas
psicológicas. A confiança no ensino de Jesus que apontava para o
Misericordioso, lhes deu autoridade para expulsar todos aqueles demônios
originados em Mamon. Sair somente com a “roupa do corpo”, sem levar nada
para o sustento e voltar em segurança para o mestre, tendo recebido o cuidado
de seus irmãos, lhes deu a certeza de que eram mais importantes que os
passarinhos e as flores e por isso eram dignos do salário pago pelo Eterno;
afinal de contas, quem semeia misericórdia, colhe Misericórdia, e é por isso
que todo o trabalhador é digno desse salário 6, a Misericórdia.
Jesus resgatou o serviço sacerdotal, que é o ensino e a prática da
Misericórdia.
Encontramos em uma das cartas atribuídas ao aluno Simão Pedro, a
lembrança desse fato insofismável. Eis o lembrete do apóstolo:
“Vocês, porém, são o povo escolhido os kohanim do Rei, a nação santa, o
povo pertencente a Deus! Por quê? Para louvar Aquele que os chamou das trevas
para sua maravilhosa luz. Anteriormente vocês não eram um povo, mas agora são
povo de Deus; antes, vocês não haviam recebido misericórdia, mas agora a
receberam.” 7
A Igreja de Jesus deve ser o equilibrador da balança social na vida dos
gentios, assim como os filhos de Abraão são o equilíbrio mundial, por meio das
ações de misericórdia dos Justos que se juntam para praticar a Justiça do Reino
do Céu. Para esse ministério, Jesus estabeleceu com nitidez as diferenças entre
Igreja e matilha. Igreja é ajuntamento de pessoas que praticam a Justiça – doam
e recebem Misericórdia –, pessoas, que em nome de Deus, retribuem o que são
e o que possuem, a todos os necessitados em todas as suas necessidades.
Matilha, ao contrário, é organização – principalmente de líderes religiosos –,
que separa as famílias para “devorar” os mais fracos, os recém-nascidos
e os velhos. Igreja dá, matilha tira.
***
Notas – Teshuvah e salvação. Pra mim e pra
você.
1. Atos 20:19 a 21 – BJC, Editora vida, 2010.
2. Salmo 37.25 – BJC, Editora vida, 2010.
3. Mateus 19:24; Marcos 10:25; Lucas 18:25.
4. Mateus 5:7 a 10 – BJC, Editora vida, 2010.
5. Lucas 10:7; I Timóteo 5:18.
6. I Pedro 2:9 e 10 – BJC, Editora vida, 2010.
Abreviações
BACF -
Bíblia Almeida Corrigida e Fiel; BJC - Bíblia Judaica Completa; BH
- Bíblia Hebraica; BNVI - Bíblia Nova Versão Internacional; ES -
Escrituras Sagradas; BEP - Bíblia Edição Pastoral.
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